A Psicologia nos nossos dias – Rugas de quem viveu. A Reforma.
O trabalho transporta um valor especialmente importante na vida de qualquer pessoa, sendo a nossa fonte primordial de rendimentos e ajudando a definir o nosso papel na sociedade.
Assim, o momento da reforma e a vivência da condição de reformado acarretam para o próprio uma passagem de extrema importância, nem sempre vivida de forma pacífica ou emocionalmente adequada. Em certa medida, a entrada na reforma muitas vezes é vista como uma transição da meia-idade para a velhice, de um período de grande atividade e utilidade para o início de um período de relativo sedentarismo e sentimento de inutilidade.
No entanto, se atendermos ao significado da palavra reforma, percebemos que se trata de uma nova organização, de uma modificação ou renovação do estilo de vida, o terminar de um ciclo para iniciar um novo. Neste sentido, a reforma pode funcionar como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e social. Representa o momento em que se pode fazer aquilo que sempre se quis fazer e não se pôde, de oferecer ajuda a quem precise, voluntariando-se para projetos de ação social, dedicando tempo a hobbies que o próprio aprecie, entre outros. A maior disponibilidade de tempo facilita a manutenção e a criação de novas relações de amizade, promovendo o alargamento da rede social e a promoção do bem-estar psicológico. Paralelamente, com estes investimentos evitam-se o isolamento e a sensação de improdutividade.
Existem hoje em dia uma série de ofertas que permitem ao reformado manter-se socialmente ativo, sendo uma das possibilidades a agregação a um centro de terceira idade, que oferece uma série de atividades de lazer e convívio. São, na sua maioria, organizações sem fins lucrativos, a cargo de instituições religiosas ou municipais, que permitem o acesso a uma diversidade de serviços sem que tal signifique uma grande disponibilidade financeira. Dentro do leque de oportunidades ocupacionais para reformados, encontramos também universidades com cursos superiores para seniores e cursos de educação e formação nas juntas de freguesia, os quais possibilitam a aprendizagem de novas habilidades e passatempos. Esta necessidade de procurar estar ativo prende-se com o aumento da esperança média de vida e com o decréscimo da natalidade, factos que nos levam a ter cada vez mais pessoas com mais idade mas ainda bastante ativas no nosso País. Surge, assim, a necessidade urgente de investir nesta camada tão sábia da população.
Cada vez mais, os próprios reformados sentem a necessidade de investir noutros domínios, procurando uma contínua estimulação cognitiva e fazendo prevalecer o dinamismo no seu quotidiano. Envolvem-se mais na rotina familiar, assumindo um papel de extrema importância na família, com especial notoriedade na vida dos netos, a quem acompanham e de quem cuidam naqueles momentos em que os pais, por motivos profissionais ou pessoais, não podem estar presentes. E é esta partilha entre gerações, de afetos e vivências, que os torna tão importantes na vida familiar.
Para concluir, ao contrário do que se pensava antigamente, que com a reforma vinha um decréscimo de afazeres e um aumento dos tempos livres, presentemente, ser reformado pode significar um acréscimo de responsabilidades familiares, assim como, a possibilidade de desempenhar voluntariamente ações de grande impacto social.
Ana Jesus Ferreira
Susana Vaz Martinho
in Jornal de Matosinhos, 26 de Julho de 2012
in Jornal de Matosinhos, 26 de Julho de 2012