quarta-feira, 25 de julho de 2012

Reforma

A Psicologia nos nossos dias – Rugas de quem viveu. A Reforma.

 

O trabalho transporta um valor especialmente importante na vida de qualquer pessoa, sendo a nossa fonte primordial de rendimentos e ajudando a definir o nosso papel na sociedade.
Assim, o momento da reforma e a vivência da condição de reformado acarretam para o próprio uma passagem de extrema importância, nem sempre vivida de forma pacífica ou emocionalmente adequada. Em certa medida, a entrada na reforma muitas vezes é vista como uma transição da meia-idade para a velhice, de um período de grande atividade e utilidade para o início de um período de relativo sedentarismo e sentimento de inutilidade.
No entanto, se atendermos ao significado da palavra reforma, percebemos que se trata de uma nova organização, de uma modificação ou renovação do estilo de vida, o terminar de um ciclo para iniciar um novo. Neste sentido, a reforma pode funcionar como uma oportunidade de desenvolvimento pessoal e social. Representa o momento em que se pode fazer aquilo que sempre se quis fazer e não se pôde, de oferecer ajuda a quem precise, voluntariando-se para projetos de ação social, dedicando tempo a hobbies que o próprio aprecie, entre outros. A maior disponibilidade de tempo facilita a manutenção e a criação de novas relações de amizade, promovendo o alargamento da rede social e a promoção do bem-estar psicológico. Paralelamente, com estes investimentos evitam-se o isolamento e a sensação de improdutividade.
Existem hoje em dia uma série de ofertas que permitem ao reformado manter-se socialmente ativo, sendo uma das possibilidades a agregação a um centro de terceira idade, que oferece uma série de atividades de lazer e convívio. São, na sua maioria, organizações sem fins lucrativos, a cargo de instituições religiosas ou municipais, que permitem o acesso a uma diversidade de serviços sem que tal signifique uma grande disponibilidade financeira. Dentro do leque de oportunidades ocupacionais para reformados, encontramos também universidades com cursos superiores para seniores e cursos de educação e formação nas juntas de freguesia, os quais possibilitam a aprendizagem de novas habilidades e passatempos. Esta necessidade de procurar estar ativo prende-se com o aumento da esperança média de vida e com o decréscimo da natalidade, factos que nos levam a ter cada vez mais pessoas com mais idade mas ainda bastante ativas no nosso País. Surge, assim, a necessidade urgente de investir nesta camada tão sábia da população.
Cada vez mais, os próprios reformados sentem a necessidade de investir noutros domínios, procurando uma contínua estimulação cognitiva e fazendo prevalecer o dinamismo no seu quotidiano. Envolvem-se mais na rotina familiar, assumindo um papel de extrema importância na família, com especial notoriedade na vida dos netos, a quem acompanham e de quem cuidam naqueles momentos em que os pais, por motivos profissionais ou pessoais, não podem estar presentes. E é esta partilha entre gerações, de afetos e vivências, que os torna tão importantes na vida familiar.
Para concluir, ao contrário do que se pensava antigamente, que com a reforma vinha um decréscimo de afazeres e um aumento dos tempos livres, presentemente, ser reformado pode significar um acréscimo de responsabilidades familiares, assim como, a possibilidade de desempenhar voluntariamente ações de grande impacto social. 

Ana Jesus Ferreira
Susana Vaz Martinho

in Jornal de Matosinhos, 26 de Julho de 2012