Ao longo da minha experiência como Psicólogo, tenho-me deparado com diversos casos de crianças em que o pai se encontra ausente, sendo os motivos desta ausência diversos. Em alguns desses casos, pude verificar uma série de dificuldades, quer a nível comportamental e emocional, quer a nível das aprendizagens e respetivo desenvolvimento, nestas crianças.
Quais as consequências que pode haver nestas famílias?
Para começar é necessário analisar o motivo desta ausência, “ Porque faleceu? Porque se encontra a trabalhar fora da área de residência? Pais separados? Situação de abandono? A mãe é solteira?”. Os motivos podem ser diversos, mas têm consequências ao nível da dinâmica familiar, e no desenvolvimento da criança.
Se entendermos a identificação enquanto um processo individual, que depende de aspetos socioculturais, que ocorre de dentro para fora, em cada indivíduo e que é ajustado às expectativas dos pais, facilmente entendemos como fica comprometido este processo – identificação – na ausência de um progenitor. Claro que, a criança pode encontrar, e muitas vezes encontra, esse papel noutra figura de referência, assim como o suporte necessário a uma adequada identificação masculina (num avô, num tio, entre outros). No entanto, não deixa de haver casos em que essa identificação fica de facto comprometida, e situações que, não havendo a questão da identificação, mas em que verificamos um comprometimento emocional devido à ausência ou abandono do pai. Estas são, talvez, as situações às quais temos de estar mais atentos, devido à instabilidade afetiva e à confusão que criam na criança.
Contudo, nada disto é linear, e importa não esquecer que a forma como o pai influencia a criança, depende sempre da qualidade da interação que evidenciam. Quero com isto dizer que, mesmo um pai presente, mediante a adoção de comportamentos negativos, de risco e inadequados, pode provocar um maior prejuízo no desenvolvimento da criança do que um pai ausente.
Nestas situações, a sociedade tem um papel muito importante, nomeadamente, a escola e outras instituições que lidem com o agregado pelos mais diversos motivos, podendo e devendo fornecer suporte e acompanhamento a estas famílias.
A ausência de um pai pode alterar o equilíbrio e a dinâmica familiar, no entanto, a família, quando ajudada, possui condições para reestruturar-se, manifestando capacidade de adaptação e alteração à nova condição da família, moldando a conjuntura atual à sociedade também sempre em transformação.
Nuno Galo